A História de uma Lenda
1923 ![]()
Prova aberta só a construtores, estiveram presentes 33 carros, de 3 países diferentes e distribuídos por 17 marcas distintas. No principio de Maio apenas 3 construtores testaram o circuito: Chenard & Walker, Lorraine e Bignan. Foram ainda inscritos 2 Voisin e 2 Buc que não se apresentaram na partida. O tempo pregou a primeira machadada na prova. Na véspera uma violenta tempestade de granizo inundou o traçado e surgiu a lama, obrigando a cancelar um espectáculo de fogo de artificio já programado, e afastando muitos possíveis espectadores. As nuvens cinzentas carregavam um céu de chumbo, afectando a visibilidade e criando problemas de iluminação nos farois de muitos concorrentes. Dada a partida, Lagache, o futuro vencedor, comandava no final da primeira volta, se bem que os Bignan, Lorraine, Excelsior e Bentley se mantivessem na luta. O Excelsior nª2 afunda-se nas areias de Mulsanne e retoma a prova com muito atraso (seria o 9º no final). O único Bentley em prova, e o mais perigoso «outsider», começou a sentir problemas de travões, e sempre pecou por faróis ineficazes, atrasou-se irremediavelmente, terminando em 4º, mas mesmo assim rubricando a volta mais rápida estabelecendo o primeiro record de volta em Le Mans: 9m 39s à média de 107,328 km/h. O primeiro abandono verificou-se com o SARA nª31 à 14º volta, com problemas de suspensão na sequência de uma saída de pista. O Berliet nª13 abandonou à 44ª volta e o Lorraine nª6 saiu à 50ª volta. Apenas 3 abandonos entre 33 carros. Até hoje este record não foi batido. O piloto do Bugatti nª29 René Marie, teve que percorrer 10 km a pé para ir ao seu stand buscar combustível (4 de ida e 5 de regresso), pois o seu carro furara o depósito. Terminou em 22º. A Chenard & Walker obteve os dois primeiros lugares da prova. O segundo Chenard (o nº10) foi protagonista de um choque com o Bignan nº23, mesmo na linha de chegada. Terminaram em segundo e terceiro obtendo um pódium para a França. O único Bentley, só com um farol operacional, uma saída de pista, uma pane seca (uma pedra rompeu o depósito de combustível) arrecadou o recorde da volta e o 4º lugar da geral. A meta dos 2000 km foi ultrapassada pelos dois Chenard & Walker (separados por 4 voltas), estabelecendo novo record do Mundo com 21 horas, 41 minutos e 20 segundos. Três viaturas aguentaram 24 horas sem mudar um único pneu: os dois Brasier nº17 e nº18 e o Berliet nº12 (19º na geral).
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Textos de Jorge Curvelo, Francisco Muniz e Luis Santos |