A História de uma Lenda
1924 ![]()
Ao contrário do esperado, a edição de 1923 não logrou o sucesso internacional desejado. Talvez o facto de 30, em 33 carros participantes, terem sido classificados não tenha demonstrado aquela dureza procurada de início. O caso de só três carros estrangeiros estarem presentes também não trouxe grande impacto mediático. Daí não se estranhar que em 1924 a organização tenha apertado o regulamento: houve um aumento das distâncias mínimas e médias obrigatórias para as diversas cilindradas, a obrigatoriedade de à 5ª volta, o condutor parar nas boxes e montar a capota, que deveria continuar montada durante as próximas 20 voltas, mostrando que a capota não era um simples acessório da viatura. No caso de os pneus furarem mais que duas vezes, o piloto era obrigado a retirar a roda, mudar a câmara de ar e montar o pneu de novo. Foi então criada um Taça Bienal, além da Trienal, da inauguração da prova. Como participante estrangeiro apenas um Bentley se deslocou de Inglaterra, mas desta vez o modelo de 23 já dispunha de travões às quatro rodas, faróis reforçados e protegidos. Um Sunbeam e Delage inscritos não verificaram. E dos 41 carros inscritos apenas 39 partiram... De inicio o vencedor de 1923, o Chenard & Walker de Lagache e Leonard, forçou o andamento, isolando-se rapidamente. Só o Bignan 3L o acompanhava a 170 km/h. Cinco carros resolveram encetar a perseguição às duas 'lebres', dentre eles o Bentley. Chegara entretanto a 'operação capota'. Nas paragens das boxes o record foi para o pequeno SARA nº45 ex-aecquo com o Montier-Ford nº23, com 23 segundos perdidos. O Bentley demorou 38 segundos. As 20 voltas com a capota não acalmaram os ânimos e as médias continuaram altíssimas. E começaram as primeiras desistências, treze carros não completaram as primeiras 25 voltas por avarias de motores e, um Chenard (nº9) por acidente e despiste. à 26ª volta o Chenard & Walker comandante, o dos vencedores do ano anterior, não resiste e o motor incendeia-se, não sem antes ter pulverizado o record da prova: 9m 19s à média de 111,168 km/h. O Ariés nº7 herdou o comando mas, pouco antes da meia-noite desistia com o motor partido. O Bentley continuava em prova, mas com insistentes paragens para troca de amortecedores e problemas de caixa de velocidades. Após 12 horas de corrida apenas 21 carros estavam operacionais. O Lorraine nº4 comandava mas o Bentley era segundo na mesma volta. à 112ª volta o Lorraine vê saltar uma roda e abandona. O Bentley assume o comando, bem afastado do segundo, e pode abrandar um pouco. Mas não descansou. Numa paragem de rotina para mudança de pneus, uma das porcas da roda empenou e não saía... o tempo passava e o espectro da eliminação esteve presente. Mas finalmente, deixou as boxes e vencia a edição de 1924. O orgulho francês nem queria acreditar. O único carro estrangeiro em prova ganhava a prova. Dos 12 carros classificados, exceptuando o Bentley, só o team Brasier conseguiu terminar com todos os carros inscritos. O record à distância não foi batido, faltaram 132 quilómetros. | |
Textos de Jorge Curvelo, Francisco Muniz e Luis Santos |